20:55 – a praça.
20:57 – a igreja.
20:59 – o demônio.
Cenário mais que ideal para a
última oportunidade do crime. E eis que se trava o diálogo. Acusa-me de
covardia, mas advirto: psicologia antirreversiva a essa alturas é um tanto
infantil. Mostra-me o punhal tingido de escarlate, tentando intimidar. Tudo
bem, respondo, tenho reservas a sangue. Passo por fraco e ouço os risos de
zombaria. Recuo, trafego cambaleante pela praça e a estranha presença, sem que
eu note, se desfaz como fumaça.
22:37 – a praça, a igreja e eu.
Vampiro por que se recusas a
fazer sua vítima¿ Vampiro por que desprezas a tradição¿ Vampiro não é de sangue
que vives, despeja o superego afrontas sobre mim. Enraiveço, tomo forma e parto
para o último voo naquele lugar. Avisto os precipícios e cavernas. Vejo a
senhora de boa família encontrar-se com seu amante. Vejo o cabaré com aquelas
ilustres presenças taciturnas frequentadas pelos amigos de boa fama e quase vou lá. Vejo a beata, julgar as cenas que eu acabara de ver. Vejo a
representação dos personagens que retornam para suas casas, beijam seus íntimos
e no dia seguinte insinuam comportamentos reacionários e suas índoles
moralistas. Mimetizo.
00:01 – a praça e a igreja.
Prefiro a luz que desmancha. Prefiro
as cinzas que restaram do sol que, de imediato, cegou os meus olhos. Voo e tomo
destino. Um século depois, ei de retornar, mas o passeio já não será tão manso
e divertido em meio aos arranha-céus que hão de surgir na aldeia vigiada.
PS: O amor é mais forte que a
morte (Drácula de Bram Stoker).